sábado, 22 de maio de 2010

Sentidos.

Acordou. Primeiro, tentou se lembrar de onde estava e o porquê. Então, sua atenção se voltou para os cincos sentidos, repentinamente aguçados. Sentiu o toque da relva quente e úmida em que estava deitado, sentiu gotas de água que caíam de leve, aleatoriamente, e ajudavam, aos, poucos, no seu despertar. Ouviu o farfalhar entre as folhas e galhos dos enormes carvalhos; ouviu as aves em suas melodias. Sentiu o aroma fresco e energizante do orvalho. Ao abrir os olhos. viu, por cima das copas das árvores, um céu azul, viu os raios de sol que subiam ao longo da manhã, incidindo por toda a clareira.
Então, sentiu o gosto doce de seu próprio sangue, sentiu o sabor doentio da dor pungente que estava, de repente, sentindo. E tudo veio à tona, como se tivesse acordado de um sonho. Seu corpo inteiro latejou, e ao se lembrar da dor excricante que o atingira quando finalmente  fincaram-lhe a espada em seu ventre, percebeu que não havia mais nada ali, além de uma pequena cicatriz.
Philippe recordou dos últimos momentos antes de perder a consciência. Deleitava-se, ainda no chão, com a aparente vitória da últma batalha, mas ao mesmo tempo, intrigava-se com a calmaria do lugar em que estava e estava espantado também, por ninguém ter ido procurá-lo ainda. Levantou-se e com um rápido olhar pela  clareira, encontrou sua armadura e espada encostados a árvore mais próxima.
Com uma súbita sede, decidiu ir até a cahoeira cujas águas podiam ser escutadas, mas não vistas. Philippe vestia o elmo, que naõ reluzia devido à camada de poeira e sangue seco que o cobria, quando estacou. Podia ter certeza que ouvira o som de folhas secas quebrando-se com pisadas. Os pássaros não mais cantavam. Fechou rapidamente os olhos. Todos os seus sentidos afloravam novamente. O silêncio que dizia tudo indicava o perigo que chegara até ali, as passadas leves eram inúteis para causar maior susto. Na boca, não sentia mais o gosto de nada, e engolia em seco sua própria respiração. O cheiro era de medo, e invadia suas narinas, mas era ele mesmo quem exalava-o. Seus dedos encontraram o punho da espada que nunca havia deixado de cumprir sua função ao seu lado. Philippe se virou lentamente e abriu os olhos, pronto para reagir a qualquer ataque.
O que viu asustou-o mais do que havia imaginado. Mas ele não teve tmepo para pensar. Seu adversário já desembainhara sua espada e brandia-a contra ele. Mai quaro espadachins, empregados da rainha, também lutavam contra ele. O barulho do choque de cinco espadas contra uma ecoava por toda a clareira. Não era à toa o título de melhor esgrimista do reino. Entretanto, Philppe ainda estava debilitado pela batalha anterior e o restante de suas forças esvaía com rapidez. Seus reflexos tornavam-se cada vez mais lentos, e de repente, uma das espadas inimigas fincou-lhe  entre as dobras da armadura. Com um lampejo de dor e o sangue fluindo do buraco feito, caiu de joelhos, mas antes que pudesse lamentar realmente sua derrota, ouviu um grito forte.
Era sua tropa que havia encontrado-o. Com rápidos movimentos, seus melhores soldados renderam a todos. Fiream todos prisioneiros e ajudaram Philippe a estancar o sangramento. No alforje de seus cavalos havia garrafas de água que deram para sanar-lhe a sede, e depois, alguns goles de hidromel para restaurar-lhe a energia.
Assim, foram todos de volta para o acampamento, aliviados por mais uma vitória sobre o reino tirano do qual haviam se rebelado.

_______________

Vou sentir sua falta quando acordar.
- Alice in Wonderland

Nenhum comentário:

Postar um comentário